‘Programa do Ratinho’ tem ido bem de audiência, mas ainda flerta perigosamente com a baixaria

Ratinho: rir de si mesmo é uma boa qualidade
Em entrevista ao iG publicada na última quarta-feira, Ratinho afirmou que seu programa “acabou com a baixaria excessiva”. Uma primeira olhada na atração do SBT mostra isso, de fato. O “Programa do Ratinho” está mais leve, rindo mais de si mesmo, não por acaso o apresentador abriu a última atração dizendo que era “uma revolução com amor na TV”. Um bom sinal. Mas basta prestar um pouco mais de atenção para perceber que nem todos os expedientes de gosto discutível deixaram de ser usados.
Tão logo começou a elencar os destaques da quarta-feira, Ratinho interpelou uma produtora para saber por que uma dupla de forrozeiros havia se separado. ”Diz que ele foi corno, seu Ratinho”, respondeu a moça. “Sua abelhuda”, criticou, bem-humorado, o apresentador, que ouviu dela que isso estava nos jornais. “Você nem sabe ler, como é que vai ler jornal?”, indagou Carlos Massa, numa mostra de indelicadeza, ainda que em tom de piada. E é exatamente esse um dos motivos pelos quais seu programa continua sendo visto com ar de desconfiança por alguns anunciantes ou parte dos espectadores: é difícil para ele estabelecer um limite entre o popular e o popularesco. Acaba descambando para o pastiche sem motivo.
Um dos principais responsáveis pelos tempos em que atingia índices de audiência altíssimos, o quadro do exame de DNA segue na atração. Só que um tantinho diferente, como anunciou o próprio apresentador. “Agora somos obrigados a ser chiques por um tal de Leon Abravanel”, brincou, citando o diretor de produção do SBT. Balela. “Chique”, entenda-se, apenas os figurinos de gala, desses usados em baile, com direito a taça na mão, que os convidados do quadro usavam. De resto, tudo igual. No gerador de caracteres, aparecia a seguinte legenda: “Valdenia, a esposa do Pedro, sabe que é chifruda, mas não tá nem aí”. Na discussão entre as partes, o bate boca chegou a tal ponto que nada se entendia. E, claro, todos acabaram se engalfinhando no palco. O resultado do exame, mostrou-se, era pequeno detalhe. Importante mesmo era mostrar o barraco na TV, ao vivo, com direito a um sósia de Super-Homem previamente pendurado por cabos para apartar a briga. Ou seja: esperava-se exatamente pelo confronto físico.
É muito positivo que Ratinho estabeleça um tom mais ameno, mais leve a seu programa. Mas é preciso perceber até que ponto é divertido e até onde é baixaria. Há alguns dias, um outro quadro um tanto apelativo foi levado ao ar. Sentadas de costas para as câmeras, duas mulheres desceram os cós de suas calças para deixar o chamado “cofrinho” à mostra. A missão de Ratinho? Tentar  acertar moedas naquele local. A audiência tem tolerado essas brincadeiras. Nos últimos dias a atração tem rendido bons índices ao SBT. Mas a que preço, já que muitos anunciantes se recusam a atrelar o nome a ela?
O apresentador funciona melhor quando apela para o mambembe, como quando levou as tcholas para uma luta no ringue, por exemplo. Ficou tudo tão anárquico que não houve como não cair na risada. Mais piada e menos vulgaridade. Essa é a receita.

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